Preferência Temporal e a taxa de juros
- Cezar A. M. Pedroso
- 30 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 1 de ago. de 2021

Chegará um dia que todos nós morreremos, um dia onde iremos dar adeus a vida e o tempo vivido aqui terá seu desfecho, devido a este fato, podemos definir o tempo como algo escasso, portanto faz parte da ação humana agir de acordo com sua preferência para manejar o tempo de modo mais satisfatório para si. Durante nosso tempo de vida nos deparamos com escolhas a todo momento, e parte da nossa preferência escolher entre uma delas. Há inúmeros fatores que podem influenciar a tomada de decisão de um indivíduo, uma delas é o tempo. Na economia, esse fenômeno onde o tempo é o influenciador na escolha é denominado como preferência temporal, nela, é possível estabelecer então dois tipos de preferência: a alta e a baixa.
Para a compreensão dos dois tipos de preferência temporal , antes é preciso se perguntar: você preferia ter um Iphone 12 neste momento ou só daqui 6 anos? Um carro zero modelo 2021 agora ou daqui 10 anos?
As perguntas anteriores representam situações nas quais nos deparamos com o fenômeno da preferência temporal e temos que escolher entre um dos tipos de preferência. A alta preferência temporal se baseia nos bens tendo mais valor ao indivíduo do que o tempo, já a baixa preferência temporal é ao contrário, o indivíduo encontra mais valor em usar de seu tempo para esperar e poder usufruir mais daquela coisa no futuro, podemos utilizar como exemplo a poupança.
Este fenômeno econômico se relaciona com os juros na maneira em que como um bem futuro tem menos valor para você do que esse mesmo bem no presente, você só irá aceitar abrir mão desse bem no presente caso lhe seja prometida uma quantia maior desse mesmo bem no futuro. Por exemplo, você é o único humano habitante na sua cidade que possui certo modelo de aparelho celular, e surge alguém pedindo o aparelho emprestado por 3 meses para gerar renda com o uso dele. Neste caso, você só abrirá mão do celular se a pessoa lhe prometer pagar, após estes 3 meses, um valor maior do que o valor presente do seu aparelho. A questão é que o indivíduo busca ser recompensado pelo tempo que abriu mão de usar o celular. O mais comum de ser feito é a cobrança de um valor adicional.
Agora vamos supor que você tenha dois daquele mesmo aparelho e a pessoa empreste apenas um, neste caso você tende a cobrar um valor menor do que caso tivesse somente um. Quanto maior for seu capital disponível para emprestar, menor o valor que você exigirá por abrir mão de cada unidade.
Dado estes exemplos anteriormente, podemos então entender melhor a ralação entre preferência temporal, juros, e o crescimento econômico na microeconomia.
Agora vamos expandir os exemplos á economia de uma cidade. Suponhamos que os habitantes dessa cidade poupam bastante, ou seja, eles estão mais voltados ao futuro, portanto é predominante a baixa preferência temporal. Uma preferência temporal baixa, como no caso dessa cidade, gera maior abundância de bens livres para serem emprestados.
Agora imaginemos que uma empresa quer abrir um shopping; para tal investimento a empresa precisará de uma grande disponibilidade de capital: desde cimento, tijolos, tintas, até caminhões e mão de obra. Quanto maior for a poupança dos habitantes, isto é, quanto menos eles estiverem consumindo , maior será a disponibilidade desses elementos (afinal, aquilo que não é consumido é poupado). E quanto maior essa disponibilidade, menor o preço cobrado pelo uso de cada unidade deles. Logo, a baixa preferência temporal das pessoas dessa cidade gerou uma maior poupança- isto é, mais capital disponível para empréstimo -, o que fez com que fossem menores os juros exigidos por cada unidade de capital.
Em outra hipótese, se a cidade consome mais, ou seja, sua preferência temporal é alta, os juros sobre os produtos necessários para a construção do shopping serão maiores, visto que a disponibilidade de capital é menor do que no exemplo anterior. a empresa estaria disputando o uso desse escasso capital com os moradores consumistas, que cobram um preço muito alto para deixar de usá-los.
Podemos então concluir que as taxas de juros podem sinalizar o poder de consumo de uma população, isto em uma economia de livre mercado sem interferência estatal nos juros ou na economia em um geral.
"Em um mercado livre e desimpedido, a taxa de juros é determinada puramente pelas preferências temporais de todos os indivíduos que compõem a economia de mercado. A essência de um contrato de empréstimo é que um "bem presente" (dinheiro que pode ser usado no momento) está sendo trocado por um "bem futuro" (um título de dívida que só poderá ser utilizado em um dado momento futuro). Como as pessoas sempre preferem ter o dinheiro agora ao invés da perspectiva de receber a mesma quantia em algum momento futuro, o bem presente sempre exige um prêmio no mercado em relação ao bem futuro. Este prêmio é a taxa de juros, e seu valor irá variar de acordo com o grau em que as pessoas preferem o presente em relação ao futuro, ou seja, o grau de suas preferências temporais." Rothbard, Murray.
Referências: 1. HOPPE, H.H. Democracia, o Deus que Falhou. LVM Editora capítulo 1. São Paulo 2017. 2. ROTHBARD, M. N. Man, Economy, and State. With Power and Market Government and The Economy. Scholar's Edition. 2a. ed. p.15. Alburn: Ludwig von Mises Institute, 2004. 3. MISES, L. V. Ação Humana. Um Tratado de Economia. LVM Editora. p. 101. São Paulo 2017. 4. ROTHBARD, M. N. Man, Economy, and State. With Power and Market Government and The Economy. Scholar's Edition. 2a. ed. p.15. Alburn: Ludwig von Mises Institute, 2004. 5. MENGER, C. Principles of Economics. p. 153. Alburn: Ludwig von Mises Institute, 2007. ISBN 978-1-933550-12-1. 6. ROTHBARD, M. N. Man, Economy, and State. With Power and Market Government and The Economy. Scholar's Edition. 2a. ed. p.51. Alburn: Ludwig von Mises Institute, 2004. 7. MISES, L. V. Ação Humana. Um Tratado de Economia. LVM Editora. p. 478. São Paulo 2017.
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